quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ajuste os ponteiros da vida pessoal e profissional





Se suas últimas leituras só se referem a relatórios da sua empresa, se os seus amigos mais antigos já não o convidam para um chope, e se nos finais de semana você só fala de trabalho, cuidado.

Além de estar com o bate-papo pouco afiado, você pode estar cuidando mais do seu lado pessoa jurídica em detrimento de sua vida pessoal.
Essa conta, entretanto, não fecha no longo prazo e pode jogar contra você mesmo no lado profissional.


Quantas vezes você já passou mais horas no escritório do que na própria casa?
Ao viajar nos finais de semana com a família ou amigos, você consegue esquecer dos relatórios, ligações e e-mails que ficaram para trás?
E aquele curso de idiomas que tenta concluir há anos?
Já pensou em reservar um tempinho a mais na sua agenda para você mesmo?
“Já que vamos mudar, vamos mudar tudo.”
Foi com esse pensamento que Margareth Cardoso, 35 anos, gerente de RH da Air BP América do Sul, decidiu cuidar um pouco mais de sua vida pessoal e familiar em vez de se dedicar quase que exclusivamente ao trabalho, como fazia. Quando se mudou do Rio de Janeiro para São Paulo para facilitar a rotina na empresa, suas atividades pessoais se transformaram.

Atualmente, mesmo que tenha de fazer malabarismos, ela consegue conciliar tarefas de mãe – como ir às reuniões escolares – com as responsabilidades de executiva numa multinacional em que trabalha, em média, 12 horas por dia.
“Eu tinha um nível de estresse muito alto, minha produtividade era comprometida. Depois da mudança, obtive muitos ganhos”, conta.
Para ela, que se considera bastante disciplinada, só está faltando conseguir mais tempo para fazer exercícios físicos. “Já me matriculei e desmatriculei milhões de vezes na academia”, reclama.



Entre estímulos e pressões

“Temos de levar em conta que trabalhar e realizar atividades pessoais, na maioria das vezes, são ações incompatíveis. Não é possível dedicar, simultaneamente, o mesmo tempo às duas coisas”, diz a psicóloga Giovana Del Prette.
A especialista explica que as pessoas tendem a escolher com que intensidade se dedicam mais ao trabalho ou à vida pessoal porque algum comportamento está sendo reforçado, trazendo consequências que o mantêm.


Por exemplo, a remuneração variável, a participação nos lucros da empresa ou as premiações por cumprimento de metas podem ser fortes estímulos à abdicação ou adiamento das atividades pessoais em detrimento das profissionais.
Sem falar nos desafios do trabalho que, por si só, são reforços poderosos.


Por outro lado, repreensões e punições para que o profissional “mostre serviço” faz com que ele tenha engajamento mínimo em qualquer atividade fora do espaço da empresa.
“Dessa forma, deixa-se de lado o autocuidado, a diversão, o lazer, o tempo com a família, os amigos, as viagens e assim por diante”, afirma Del Prette.
O comportamento “workaholic”, segundo a psicóloga, também pode se originar na fuga de situações ruins que estão longe do ambiente de trabalho, mas que pressionam o profissional da mesma maneira.

“O relacionamento com o cônjuge vai mal, os filhos estão cheios de problemas, uma gastrite surge, os amigos se foram, e o trabalho acaba funcionando como refúgio dessa realidade, ainda mais estressante do que as horas gastas na empresa.” 

Tempo precioso

Parece que a preocupação com a saúde é uma constante entre os profissionais. “O que mais me incomoda é o sedentarismo. A minha vida, por ser muito dinâmica, não me permite criar um vínculo com uma academia”, diz o diretor comercial da BRconnection, Marcelo Negrão, 39 anos.
Ele, que é fascinado por esportes de velocidade e corre de Kart em seu tempo livre nos fins de semana, reconhece a importância de dedicar um pouco de tempo para si mesmo.
“Essa falta de atividade física é muito ruim, pois reflete diretamente na saúde e, consequentemente, no desempenho do dia a dia. Estou tentando corrigir este problema”, argumenta o executivo que chega a trabalhar 16 horas nos dias mais atribulados.


O cotidiano de um executivo é, reconhecidamente, estressante, especialmente porque ele assume posições que demandam compromisso e dedicação extremos, como é o caso de Davi Brandão, 29 anos, editor do semanário Shopping News e do portal eletrônico do jornal DCI.
“Não tenho horário para entrar no trabalho, nem para sair. Atuo até em finais de semana e feriados”, relata.
Com isso, falta tempo para ir à academia ou viajar por lazer.
Há alguns meses, ele vem adiando uma visita a Buenos Aires para descansar.
Enquanto não consegue tempo, ele se distrai com filmes que pega na locadora para preencher os esperados domingos sem correrias.


Sustento emocional

Fernando Di Trani, 50 anos, é vice-presidente de vendas da Lamina Technologies. Ele mora na Suíça, onde começa a trabalhar às 6h30 da manhã e só para às 10h da noite.
Tudo para dar conta de falar com os clientes dos 64 países que sua empresa atende.
“De tanto trabalhar, você acaba confundindo o privado com o profissional”, revela.
A mulher dele, que trabalha na mesma empresa, tem um marido dedicado por conta de um pacto que fizeram: não levar trabalho para casa.
O que não quer dizer finais de semana sempre livres para o lazer ou para a filantropia, atividade que ele realizava com frequência no Brasil.
Quando está fora do trabalho, suas horas livres são reservadas à esposa.
“Aprendi que a família é que nos dá sustentação emocional, e não o trabalho.”


O que sobra

“Quando as consequências só aparecem no longo prazo, controlar o comportamento presente fica mais difícil”, aponta Del Prette.
Assim, é importante se questionar se há equilíbrio entre o tempo dedicado a si mesmo e ao trabalho. E se houver prejuízos, descobrir como mudar a situação é fundamental.
“Se a empresa quebra, se é preciso mudar de cargo, ou o indivíduo é afastado ou demitido, o que lhe sobra? Uma vida pessoal que ele não alimentou”, enfatiza a especialista.


De olho no relógio

A psicóloga Giovana Del Prette aponta algumas consequências que indicam o desequilíbrio no controle do tempo que o profissional compromete com o trabalho, podendo ser prejudicial a longo prazo: 
  • Dificuldades em se comunicar com a família; autoridade e respeito obtido via discussões tensas;
  • Família afetivamente distante e/ou afetivamente carente;
  • Diminuição do conhecimento sobre o dia a dia dos filhos, esposa e amigos (você é o último a saber ou descobre os fatos só depois que já ocorreram e foram resolvidos sem sua ajuda);
  • Diminuição do número de amigos e da frequência com que os vê, acompanhado ou não por reclamações sobre sua ausência (“sumido, heim?”) ou por desistência de lhe procurarem;
  • Diminuição do conhecimento e/ou participação em atividades não profissionais de sua preferência, como leitura de livros não técnicos, ida a cinema, teatro, exposições, esportes etc.;
  • Sinais de fadiga física (alterações no sono, no apetite e no humor, estresse, gastrite, aftas, dores nas costas, diminuição da capacidade de concentração, entre outras);

De acordo com a psicóloga, observar-se é o primeiro passo.
Em seguida, é necessário exercitar a capacidade de prever, a partir dos primeiros sinais de problemas, qual tipo de fim pode-se esperar caso esses problemas não sejam solucionados o mais rápido possível.
“Uma psicoterapia é valiosa quando houver dificuldades em mudar um comportamento sozinho”, recomenda.



Fonte: www.canalrh.com.br - dezembro de 2008 - por Fátima Cardeal e Romulo Santana
Imagem: hsm.updateordie.com/files/2008/03/relogio_da_vida.jpg
Atenção: A responsabilidade deste artigo é exclusiva de seu respectivo autor (fonte original).






Obs.: Texto adaptado à Reforma Ortográfica de 2009.