domingo, 19 de junho de 2016

PARLENDAS – Hoje é domingo...


Hoje é domingo
pede cachimbo,
o cachimbo é de barro
 bate no jarro,
 o jarro é fino
bate no sino,
o sino é de ouro
bate no touro,
o touro é valente,
bate na gente
a gente é fraco
cai no buraco,
o buraco é fundo,
acabou-se o mundo...

Antes, o que são parlendas?
Parlendas são versinhos com temática infantil que são recitados em brincadeiras de roda. Possuem uma rima fácil e por isso, são populares entre as crianças. Muitas parlendas são usadas em jogos para melhorar o relacionamento entre os participantes ou apenas por diversão. A maioria das parlendas são antigas e os seus autores são desconhecidos, porém são populares no domínio público. Elas fazem parte do folclore brasileiro, pois representam uma importante tradição cultural do nosso povo. (http://www.suapesquisa.com/folclorebrasileiro/parlendas.htm)

Sobre a parlenda que ilustra a postagem, eu ficava imaginando como seria um pé de cachimbo? Só depois foi que eu saquei, correto é: HOJE É DOMINGO PEDE CACHIMBO. 
Explica-se: "domingo é um dia especial para relaxar e fumar um cachimbo em vez do tradicional cigarro (para aqueles que fumam, naturalmente)" (Professor Pasquale).


Ficou triste? Indignado? 
Tem mais gente que também se sente assim...
Veja o belo texto de Osias Canuto, demonstrando toda a sua frustração com essa descoberta!!!


Domingo, Pé de Cachimbo


"Hoje é domingo, pé de cachimbo..." 
Se você não estranhou a frase anterior é um ótimo sinal. Você teve uma infância maravilhosa. Não estou aqui para destruir as boas lembranças de ninguém, mas, pense bem: você já viu um pé de cachimbo? Nem eu, mas procurei durante toda a minha infância. Vivia perseguido pelo tal pé, que buscava em todos os quintais sem jamais encontrá-lo. Os quintais insistiam em me desmoralizar e me fazer mentiroso. Neles eu encontrava pé de tudo quanto é coisa: de caju, de banana, de jambo, mas nunca o mais valioso de todos: o sonhado pé de cachimbo.
Cresci com a memória da minha incompetência em achar um pé de cachimbo. Vivi feliz com ela até o exato momento em que um amigo me revelou o que para mim seria uma tragédia: 

“Hoje é domingo, pede cachimbo...”

Pede? Como assim? Maldito domingo. Maldito domingo que pede cachimbo. Que pede o sentar-se descansadamente com o aparato de madeira, osso ou sei lá o que mais entre os lábios. Pede, do verbo pedir, presente do indicativo, terceira pessoa do singular. O domingo pede cachimbo. Pede cachimbo. Por que, domingo? Não podias ter pedido um cigarro? Um suco gástrico? Um chinelo? Por que me traíste? Eu que te amava tanto. Que em tuas manhãs e tardes fazia nada e procurava pés de cachimbo pelos quintais, enquanto o mundo, lá longe, muito longe, se acaba nas insuportáveis intrigas de adultos. Por que me traíste pedindo? Pedindo o miserável cachimbo? 

Desculpe-me amigo leitor se você agora também se sente enganado, mas não vou carregar sozinho o peso de tamanha desgraça.
Essa história toda provocou em mim violenta reação: retornei indignado e com toda força da minha insanidade, tantas vezes comprovada, à busca frenética do pé de cachimbo. Se alguém achar antes de mim, me avise. 
Para mim, hoje ainda é “domingo, PÉ de cachimbo”. E que se dane o outro domingo, o domingo infeliz, que com sua falta de criatividade se arrasta pedindo coisas e destruindo memórias.
A vida é realmente bela!