[publicada em 07 de fevereiro de 2012]
2ª edição revista e atualizada da obra:
2ª edição revista e atualizada da obra:
É sabido que no debate público a respeito das alianças contemporâneas,
especialmente no momento em que homossexuais reivindicaram direitos de família
na França, boa parte dos psicanalistas manifestaram-se contra tais mudanças.
Para tanto, entrincheiraram-se no Édipo que, sem dúvida, ocupa lugar central na
psicanálise desde Freud, considerando-o como contraponto ao que eles passaram a
nomear de barbárie.
O Édipo – condição fundante da subjetividade humana – foi
posto num campo de batalha em oposição à ameaça supostamente conduzida por
famílias de homossexuais e de lésbicas.
Lei e Desejo – enraizados no coração do
Édipo – foram e ainda são conceitos normalmente invocados quando se exige a
interlocução entre Psicanálise e Direito.
Por sua vez, o autor faz lembrar que a
homoparentalidade é somente uma dentre outras formas de aliança conjugal e
familiar que buscam legitimação social no cenário contemporâneo.
As ‘uniões
livres’, as ‘produções independentes’, as famílias ‘recompostas’ e ‘adotivas’,
entre outras, demonstram que a sexualidade, a aliança e a reprodução humana se
dissociaram completamente ao longo das últimas décadas.
Na contramão dos
psicanalistas que avocam elevados ideais civilizatórios, o autor demonstra que,
mesmo na versão estrutural formulada por Lacan, o Édipo condensa os contornos da
família pequeno-burguesa e, por isso, acorrenta os registros que hoje em dia se
encontram desatrelados.
Para tanto, ele lança mão da genealogia de Foucault e a
explora no limite da radicalidade com que este último critica o Édipo enquanto
eixo formador da subjetividade.
O Édipo para Foucault é uma matriz moderna pela
qual cada sujeito passa a administrar sua sexualidade e a si próprio numa
sociedade cuja arte de governo está centrada no poder sobre a vida humana.
A
psicanálise teria sido aquela que recuperou o sistema de aliança face à falência
da antiga gestão familiar e à valorização do dispositivo da sexualidade,
lançando mão do Édipo enquanto instrumento principal dessa empreitada.
Por seu
turno, o autor insere na esteira dessa crítica, a ideia de que o Édipo herdou
também vetores históricos das alianças entre homem e mulher e entre pais e
filhos, o que revela o estreitamento ainda maior entre psicanálise e cristandade
ou ainda, a racionalidade científica burguesa.
Donde a necessidade de revisão
urgente do Édipo, com tudo que ele implica, a saber, a Lei simbólica fundada na
diferença sexual e no referencial fálico, em face dos jogos de força na
atualidade.
Mas, não se trata aqui de um libelo contra a psicanálise ou,
simplesmente, contra o Édipo.
Ao contrário: a tarefa de recolocar essa discussão
nos trilhos da genealogia é bastante promissora, pois permite chamar atenção
para a complexidade da psicanálise, sobretudo, do seu fundador, Freud.
Não é
preciso abdicar do Édipo para perceber que o saber freudiano se avizinha das
experiências éticas e estéticas da ars erótica, criando, assim, outras formas de
interlocução com o Direito e a Filosofia frente aos desafios da vida
contemporânea.
Desse modo, este livro interessa aos que, oriundos da
Psicanálise, da Psicologia, do Direito, da Filosofia e das Ciências Humanas em
geral, se inquietam com tais desafios sem sucumbirem a ideias acabadas de
civilização e barbárie, cuja polaridade se mostra muitas vezes mais próxima do
esperado.
Eduardo Ponte Brandão
Doutor em Teoria Psicanalítica/ UFRJ;
Mestre em Psicologia Clínica/ PUC/Rio;
Psicanalista;
Psicólogo do Tribunal de Justiça/RJ;
Professor do curso de Especialização em Psicologia Jurídica UCAM/AVM;
Professor de graduação em Psicologia UNI/IBMR;
Co-organizador do livro Psicologia Jurídica no Brasil.
Mestre em Psicologia Clínica/ PUC/Rio;
Psicanalista;
Psicólogo do Tribunal de Justiça/RJ;
Professor do curso de Especialização em Psicologia Jurídica UCAM/AVM;
Professor de graduação em Psicologia UNI/IBMR;
Co-organizador do livro Psicologia Jurídica no Brasil.
SUMÁRIO DA OBRA
Introdução
Capítulo 1 – Sexo, Casamento e Reprodução na Idade Média
1.1 Amor reserva e débito conjugal
1.2 Expansão da Igreja e regulação do sexo e do casamento
1.3 O triunfo do modelo canônico de casamento
1.4 Tribunais, feiticeiras e o repúdio ao feminino
1.5 Baixa Idade Média
1.6 A importância do Concílio de Trento
1.7 A confissão tarifada e as formas jurídicas
1.8 A confissão da carne e a pastoral cristã
1.9 A colonização da sexualidade na doutrina matrimonia l
1.10 As formas jurídicas e o problema da possessão
Capítulo 2 – Sexualidade, Casamento e Reprodução na Modernidade
2.1 A construção do modelo normativo
2.1.1 O problema da masturbação e o modelo dos dois sexos
2.1.2 A célula nuclear: a penetração da sexualidade na aliança
2.1.3 A medicalização da família e o problema do incesto
2.2 A normalização científica do sexual e a tecnologia do exame
2.2.1 A psiquiatrização do prazer perverso
2.2.2 Exame e disciplina: o infantil no adulto e as influências da ciência do sexual
2.3 A inscrição da norma na arte de governar a vida
2.3.1 A socialização das condutas de procriação
2.3.2 A arte de governar
2.3.3 Familiarismo e o declínio das ciências do sexual
2.3.4 Psicanalismo
Capítulo 3 – Sexualidade e Aliança em Freud
3.1 A sexualidade infantil perverso-polimorfa e as ramificações entre as ciências do sexual e a psicanálise
3.2 As tessituras do complexo: linhas gerais.
3.3 Dissonâncias da psicanálise frente ao projeto moderno e familiarismo edipiano
3.4 A moral sexual civilizada, a hipótese repressiva e a erotização da maternidade. .
3.5 Masturbação e ars erotica
3.6 A virada de 1920, a hipótese filogenética, o mal-estar e a feminilidade.
3.7 Lacan e os lacanianos
Conclusão