quinta-feira, 17 de novembro de 2011

ENSINO À DISTÂNCIA E ÍNDIOS TUPI(S)


— Tenho certa resistência em grafar ensino a distância, sem o acento grave indicativo de crase, como é comum encontrar nos documentos exarados pelo MEC. Alguns autores classificam tal ocorrência como CRASE FACULTATIVA. Podia comentar?
Prof. José T. B. Neto, Umuarama/PR.



Não está errado o Ministério da Educação. Mas eu, assim como o professor, prefiro usar o acento – nessa e em outras locuções adverbiais femininas que indicam circunstância. O motivo é que a ausência do acento pode deixar o texto ambíguo. Em “ensinar/estudar a distância”, por exemplo, fica-se com a impressão de que é a distância que está sendo ensinada ou estudada. É o mesmo caso de "viu a distância", "escreveu a distância", "curou a distância", "fotografe a distância", "permanece a distância" [= a distância permanece] e assim por diante, que parecem melhor quando craseadas: viu à distância, escreveu à distância, curou à distância, fotografe à distância, permanece à distância.

Com a distância determinada, especificada, o A deve ser obrigatoriamente acentuado:

             Fotografe à distância de um metro.
             Ficou à distância de uns 10 km.
             Cientistas esperam medir 60 mil galáxias à distância de nove bilhões de anos-luz.

Já na frase “Compramos uma chácara a grande distância daqui” não há crase, porque está subentendido o artigo indefinido: a [uma] grande distância.

Enfim, entendo que é sempre melhor acentuar a expressão, até porque em determinadas situações só o acento clarifica o sentido dado à palavra, como por exemplo nesta explicação entre parênteses: Reviu seus estudos a respeito da estratégia tele (“à distância”) de lidar com os saberes tácitos.

Ver também Não Tropece na Língua nº 043 - À VISTA, À MÃO: CRASE COM EXPRESSÕES DE CIRCUNSTÂNCIA.


Índios tupi ou tupis
Sempre que nossos indígenas ficam em evidência, surge a pergunta: deve-se dizer índios tupi ou índios tupis? Guarani ou guaranis? Xokleng ou xoklengs? A resposta é "tanto faz". Aceita-se o singular (mais técnico) ou o plural:

No litoral de SC estavam os 
índios tupi-guarani, ceramistas com rudimentos de agricultura, que haviam ocupado a região pelo menos 800 anos antes.
No interior habitavam os kaingang e os xokleng, do grupo Gê, também afugentados do litoral pelos carijós.

Muitos índios Gê haviam sido dizimados pelos missionários.

Maria Helena de Moura Neves (Gramática de Usos do Português, Ed. Unesp, 2000, p. 164) ensina: “Também não recebem marca de plural os nomes de tribos indígenas, seguindo convenção internacional dos etnólogos: [...] # Entretanto, frequentemente se usam esses nomes pluralizados, como qualquer outro nome de povo”.

Embora facultativo o uso, parece soar melhor o plural quando o nome da tribo tem vogal final: pataxós, caiapós, macuxis, ianomamis, kaiowás, camaiurás, xavantes, bororos.

Número: 149
Data: 31/12/2008Título: ENSINO À DISTÂNCIA E ÍNDIOS TUPI(S)
Fonte: Língua Brasil