A palavra MESMO é, muitas vezes, usada de forma inadequada.
Como ela pode se flexionar (masculino/feminino, singular/plural),
ou se manter invariável, a maleabilidade é tal que incentiva abusos.
ou se manter invariável, a maleabilidade é tal que incentiva abusos.
O uso de "o mesmo" e suas variações em contextos que, pela norma-padrão, deveria ser com o uso de pronomes pessoais do caso reto de terceira pessoa ("ele" e suas variações) tem causado polêmica.
Às vezes, MESMO funciona como pronome demonstrativo.
Aí, concorda em gênero e número com o substantivo a que se refere:
- o mesmo jogo;
- a mesma camisa;
- os mesmos jogadores;
- as mesmas partidas.
Outras vezes, modifica substantivos e os pronomes pessoais, como adjetivos.
Flexiona-se, então, de acordo com o gênero e o número do termo a que se relaciona.
Para melhor compreensão, pode ser substituído por próprio e própria:
- a garota mesma (a própria garota);
- o ator mesmo (o próprio ator);
- as garotas mesmas (as próprias garotas);
- os atores mesmos (os próprios atores);
- eu mesma (eu própria);
- eu mesmo (eu próprio);
- ele mesmo;
- ela mesma;
- nós mesmos;
- eles mesmos;
- elas mesmas.
Significa realmente, de fato, de verdade.
Aí, fica invariável:
- Ele não viajou mesmo.
- Fizemos o trabalho ontem mesmo.
- Ela quer mesmo mudar-se de casa.
- Ele está com uma nova namorada mesmo?
- O salário do trabalhador comprovou mesmo a inflação.
Ele pode funcionar como pronome neutro.
Tem o sentido de A MESMA COISA: Ir ou ficar não faz diferença.
= ideia de identidade e de igualdade entre as coisas
- Dá no mesmo [= na mesma coisa].
- O mesmo [= a mesma coisa] eu ouvi de pessoas diferentes.
- Pai e filho têm os mesmos hábitos. [= eles têm gostos iguais].
Ele pode ter valor de conjunção concessiva [= equivale a “ainda que”]:
- Mesmo que resolva ficar em casa, não se esqueça de me avisar.
- Mesmo triste, continuou o trabalho.
Pode, também, ter um valor indicativo de limite [= equivale ao uso de “até”]:
- Mesmo as pessoas que se diziam solidárias nunca mais apareceram para ajudar. [= “Até as pessoas que se diziam solidárias ...”].
Apesar das mil e uma utilidades, há pessoas insaciáveis. Querem mais.
Exigem que o vocábulo faça as vezes de pronome pessoal ou de pronome relativo:
- Vou à casa de Maria. Lá, combinarei com a MESMA a festa do Dia das Crianças.
MESMO não tem procuração para substituir o sujeito, o objeto, o complemento.
A gente não precisa cair na esparrela.
Há jeitos de escapar da “muleta de preguiçoso”.
Quer ver?
- Vou à casa de Maria, com quem combinarei a festa do Dia das Crianças.
- Vou à casa de Maria para combinar com ela a festa do Dia das Crianças.
- Vou à casa de Maria. Combinarei com ela a festa do Dia das Crianças.
- Realizou-se domingo a comemoração do Dia da Pátria. Compareceram à MESMA milhares de pessoas.
Que deve ser assim:
- Realizou-se domingo a comemoração do Dia da Pátria à qual compareceram milhares de pessoas.
- Realizou-se domingo a comemoração do Dia da Pátria. Milhares de pessoas compareceram à Esplanada dos Ministérios.
- Realizou-se domingo a comemoração do Dia da Pátria. Milhares de pessoas deram brilho à festa.
E O AVISO NOS ELEVADORES???
Há pessoas que abandonaram os elevadores.
Tornaram-se frequentadores de escadas por causa do aviso afixado em todos os andares.
O texto, obrigatório por lei, apresenta erros.
Um deles é o emprego do MESMO.
Eis a pérola legislativa:
“Antes de entrar no elevador,
verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.”
verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.”
Para evitar acidentes e desgastes físicos, é necessário respeito à língua.
O MESMO deve cair fora. Mas não irá sozinho.
Outras mudanças se impõem. O texto fica assim:
Antes de entrar, verifique se o elevador está neste andar.
Que tal?
Outro exemplo de frase ERRADA, que costumamos 'ouvir/ler':
“Verifique se está levando consigo todos os seus objetos,
pois os mesmos podem ter se deslocado durante a viagem.”
pois os mesmos podem ter se deslocado durante a viagem.”
Ou, ainda:
"Não nos responsabilizamos pelos veículos estacionados neste local,
bem como: colisões, furtos, ou objetos deixados nos mesmos."
bem como: colisões, furtos, ou objetos deixados nos mesmos."
Neste caso, tem mais coisa errada!!!
[Súmula 130 – STJ, que diz o seguinte: “A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veiculo ocorridos em seu estacionamento.”]Isso é assunto para outra postagem... 😉
Adaptado das fontes consultadas: